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Poderão as Viagens ter sido obra de um grande contador de histórias que decidiu manter-se para todo o sempre desconhecido, à sombra de um pseudónimo? Primeira resposta desarmante, onde começa a construir-se o mito de Mandeville como estrita figura de estilo: não sabemos. Já foram propostas várias possibilidades, mas nenhuma delas é irrevogavelmente confirmável. Ultimamente, alguns académicos inclinam-se para a possibilidade de asViagensserem obra de um tal de Jehan de la Barbe, de nacionalidade francesa. Ao construir o seu personagem John de Mandeville, la Barbe confere-lhe várias das características obrigatórias do grande viajante temerário. Conta-nos que ele bebeu do Poço da Eterna Juventude na Costa do Malabar e que depois disso “se sentia cada dia melhor”; que serviu Sultões e Imperadores; que lhe foram prometidos casamentos de sonho que o cobririam de honras e riquezas desde que abdicasse da sua fé, e que ele nunca aceitou tais ofertas por uma questão de respeito para [com o Cristianismo; e até que contribuiu substancialmente para avanços científicos não de menor monta: como veremos, fez observações astronómicas na Sumatra, na Alemanha, na Boémia, e ainda mais a Norte; e foi apoiado nestas observações que baseou conclusões da maior relevância sobre o formato da Terra. […]Mandeville poderia também ter-se chamado simplesmente John de Bourgogne e ter fugido para a Terra Santa na sequência de uma punição real, no que teria sido acompanhado por outro fugitivo, de seu nome Johan Mangevilain. Os dois companheiros poderão ter estado um com o outro no Egipto, poderão ter-se reencontrado em Liège e, com ou sem a colaboração do médico de la Barbe, poderão ter escrito as Viagens em conjunto, depois do que o autoproclamado cavaleiro inglês terá assinado o livro com uma corruptela do nome do amigo.Tudo é possível.Mas, no essencial, estasViagensacompanharam os viajantes durante tantos séculos, foram tão importantes na definição das novas rotas marítimas e integram hoje com tamanho destaque a literatura do género do período medieval, que o seu autor está indelevelmente reconhecido como Mandeville, fosse ou não fosse esse o seu verdadeiro nome – e tivesse ou não personalidades múltiplas.(Da introdução de Clara Pinto Correia)