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Ruggero Jacobbi, enfant gaté da geração de diretores que reinventa a cena italiana no segundo pós-guerra, é um dos artistas estrangeiros protagonistas da "renovação" do teatro brasileiro na década de 1950, tendo ainda papel de destaque como crítico teatral, de artes e literatura nos maiores jornais e revistas da época. Sua presença semanal, sua lúcida inteligência, seu enciclopédico arsenal de ideias, sua curiosidade, sua visão militante e anti-paradigmática do contexto nacional e internacional da época e, finalmente, seu experimentalismo com novas mídias massivas, como a TV, fizeram com que Jacobbi atravessasse fronteiras de lugar e tempo e se tornasse, com menos de quarenta anos, um mestre que "fez a cabeça" da geração brasileira que nos seus vinte anos inaugurava a década de 1960. A dimensão gigantesca e a dinâmica nômade de seu movimento intelectual revelam a ambição de uma hermenêutica global que ousa confrontar-se com todas as possíveis práticas e teorias em campo e que busca cânones alternativos para uma tradição sincrética, fundada na transição e adaptação perpétua entre línguas, ideias, obras e culturas viajantes: as "nações verticais", com Jorge de Lima, onde tudo pode convergir e corresponder.
Viajante humanista que entende a diáspora no sentido mais amplo, Jacobbi percebeu que sua experiência de migração bem-aventurada entre velho e novo (novo mundo, novo teatro, novos tempos ..) deveria vir a ser mais regra do que exceção no futuro próximo. Sua viagem para o outro lado do oceano seria também, como ele próprio anunciara em 1948, uma "longa viagem para dentro do teatro do século". Essa percepção da "transição necessária" defendida por Jacobbi, como um risco e uma heresia, para a "renovação' tem-lhe reservado um destino de profeta pós-moderno em nosso tempo de cultura global e saber criativo.