جزییات کتاب
"A Idade Média era mesmo assim?" Pelo menos um em cada dez espectadores terá feito alguma vez esta pergunta acerca dos filmes históricos ambientados no Medievo, geralmente situados entre os séculos V e XV. A questão, legítima, põe em evidência os limites entre realidade e ficção ou entre História e fantasia – polaridades com implicações mútuas que se complementam e se esclarecem. Abordá-las é um dos intuitos dos ensaios aqui reunidos.A linguagem do cinema – como, de resto, a de qualquer objeto que milita no campo das Artes – é metafórica, é subjetiva porque dependente do ponto de vista de um Diretor; é imagética, o que significa escolha de ângulos, de luz, de locações etc., sempre no intuito de conduzir o espectador a uma determinada concepção de realidade, que pode ou não coincidir com a perspectiva do(s) autor(es), uma vez que a película é o que se pode chamar "obra aberta".Nesse contexto, de forte apelo emocional, por mais "fria" que seja a obra, como situar a "verdade" histórica, se é que ela, a tal "verdade", está integralmente em algum lugar? O perfil cinematográfico de Joana d’Arc esculpido por Dreyer corresponde à biografia da mocinha nascida em Donrémy, que tanto batalhou pela sagração de Carlos VII como rei de França? Que espécie de Cavalaria medieval resulta do retrato grotesco que Mario Monicelli resolveu apresentar em O Incrível Exército de Brancaleone? A angústia das dúvidas teológicas do cavaleiro-cruzado Antonius Block atormentou as almas no Medievo ou, preferencialmente, a alma de Ingmar Bergman? Como conciliar o “cômico”, sempre tão deformador, com a mitologia dos escandinavos, como buscou fazer Terry Jones em As Aventuras de Erik, o Viking?Sob questões como estas, que se põem a cada página deste livro, respostas possíveis devem começar pela velha questão da verossimilhança aristotélica: o filme histórico, ou qualquer outro, trabalha com impressões do real, que podem se aproximar mais ou menos das "verdades contextuais", dependendo da habilidade da equipe de produção e das intenções do Diretor. Portanto, a avaliação do espectador incidirá na coerência do conjunto, que é a dose de "realismo" necessário à "fantasia" da Idade Média no cinema.