دانلود کتاب Da Poesia à Prosa
by Alfonso Berardinelli
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عنوان فارسی: از شعر تا نثر |
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Berardinelli mostra como a descrição efetuada por Friedrich, embora minuciosa e excelente, foi tendenciosa ao considerar uma linhagem exclusiva da lírica, de matriz francesa, caracterizada pelo acúmulo de categorias negativas. Em "Quatro tipos de obscuridade"(1991) são sintetizados os traços dessa negatividade: "solidão, mistério, provocação, jargão"; isto é, comportam a natureza mais íntima da lírica moderna a tendência irresistível ao solipsismo; a fuga obstinada à rotina, a partir da identificação pura e simples entre cotidiano imediato e estreiteza burguesa; a atitude sempre provocativa e destruidora; a ultra especialização da linguagem, transformada, nos casos extremos, quase em idioleto. Numa de suas passagens irónicas, o autor dispara: "tudo era possível em poesia, tudo era permitido, exceto dizer alguma coisa". Estabeleceu-se assim um autêntico preceito: a melhor poesia escrita no século xx é necessariamente hermética.
Ora, é o posicionamento frontal contra esse preceito que dá ao livro, organizado por Maria Betânia Amoroso, a sua unidade mais visível. Nessa posição o autor não se sente solitário, e entre os críticos convocados estão Adorno, Auerbach, Enzensberger, Edmund Wilson, além dos italianos Debenedetti, Mario Praz e Pasolini. De passagem, nos títulos dos dois ensaios até aqui mencionados há ecos evidentes de Eliot ("As três vozes da poesia") e Empson ("Sete tipos de ambiguidade") e revelam a forte presença da crítica e da poesia anglo-americana no pensamento do autor; Whitman e Auden, por exemplo, têm lugar de destaque.
Ao questionar que o retraimento constitua o modo de ser exclusivo da poesia moderna, o crítico se abre para possibilidades menos consideradas. "As fronteiras da poesia" (1993) e "Poesia e gênero lírico: vicissitudes pós-modernas" (2001) discutem justamente como outras tendências no século xx buscaram superar a pura retração lírica, indo em direção à prosa (motivação primeira do título).
Exemplo dessa argumentação crítica é "Baudelaire em prosa" (1989), em que Berardinelli argumenta como a experiência tumultuada do poeta francês perturba seu ideal de isenção artística e a dimensão moral invade a estética. O ensaio é dos melhores, inclusive por mostrar como trabalha o crítico, sempre desenvolto em meio a variadas referências estéticas, historiográficas e biográficas. A perspectiva comparatista é, aliás, sistemática no livro, mas surge de modo surpreendente, propondo relações e contrastes inesperados, por exemplo, as aproximações entre Pound, D'Annunzio e Breton...
Quanto proveito tiraria Berardinelli da leitura de Drummond e Bandeira, aqui ausentes, pois elas confirmariam de modo consistente algumas de suas ideias mais caras. Mas proveito vai tirar o leitor brasileiro de um ensaio cultivado e brilhante. A polêmica está aberta e interessa muito, não só para se repensar a tradição do século passado, mas sobretudo para refletir sobre novos parâmetros para se avaliar a poesia atual. [Murilo Marcondes Moura]